Começo a contar os tics e os tacs, um dois, três... a chuva começa a cair forte e pesada, deixando um leve cheiro de terra molhada no ar, me aproximo da janela, pelas pequenas frestas posso ver a água correndo formando pequeninos riachos na terra do jardim. O vento balança as finas cortinas de voal , volto meu olhar para o relógio, são duas e catorze...
Sento em frente ao espelho, passo a mão na escova e começo a escovar meus cabelos, estão mais curtos e mais escuros também, observo, são finos e ralos, sempre tive pouco cabelo. Tento prendê-los fazendo um coque displicente ... sobre a bancada um batom vermelho carmim, começo a passá-lo em meus lábios, depois com o dedo esfrego e borro, espalhando batom pelo rosto, algo me desperta novamente ... o tic tac do relógio,volto meus olhos na esperança do tempo ter passado mais rapidamente, mas são apenas duas e vinte...
A madrugada será longa, a impaciência me persegue, a ansiosidade e a solidão noturna são minhas constantes e eternas companheiras. Agora o barulho da chuva abafa um pouco o som repetitivo do relógio, observo cada objeto dentro do quarto, ao lado do quadro na parede que fica ao lado da cama, uma pequena mancha escura destoa do branco da parede, lembro-me bem, marcas da noite anterior quando tive a companhia de alguns pernilongos. Corro os olhos pelo quarto, mas não consigo deixar de olhar mais uma vez as horas, agora são duas e vinte e seis...
Respiro fundo, a chuva lá fora já se tornou uma pequena garoa, que aos poucos vai se dissipando, o quarto agora parece mais abafado que antes. Entro no banheiro, tiro a roupa, ligo o chuveiro, tomo um banho demorado, deixo a água escorrer levando meus pensamentos. Volto para o quarto, são duas e quarenta e quatro...resolvo ir até a cozinha, me sirvo de um copo de água gelada, a casa toda está em silêncio, todos dormem profunda e tranquilamente. Vejo as horas no grande relógio da cozinha, são duas e quarenta e sete...
Esta espera me mata, me consome, me devora...Volto para meu quarto, tranco a porta, começo a pensar no longo dia que me espera, por um momento meus olhos parecem estar pesados, mas algo me incomoda, é o som do tic tac do relógio, parecem batidas de tambor dentro da minha cabeça, são duas e quarenta e nove...
Vou até o armário, abro a gaveta, pego um baralho, começo a jogar paciência, após cinco minutos, junto tudo e recoloco na gaveta, estou mesmo sem paciência... são três e quatro da madrugada...
Ao longe ouço cachorros latindo, volto pra cama, lençóis macios, perfumados, convidativos pra uma longa noite de sono, mas a expectativa é maior. Paro e penso, será mais uma noite em claro! Aah! Insônia...
(Simone Audrei)
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